22 de março de 2016
ALMOÇO EM FAMÍLIA
Nos anos 70, o almoço de família no domingo era algo quase que sagrado. E melhor ainda se ele fosse num restaurante, porque permitia à mãe um descanso da cozinha depois de uma semana de panelas e fogão. Sim, faziam-se mais refeições em casa durante a semana e isto tinha mais peso nas atribuições da dona do lar.
O restaurante. As famílias tinham seus restaurantes de preferência e quando lá chegavam também tinham seus lugares prediletos. Famílias menores tendiam a escolher as mesas mais tímidas no canto do salão enquanto que as maiores naturalmente escolhiam o centro do salão para melhor acomodar a todos e para esticar a quantidade de mesas no mesmo ritmo do crescimento da família. Ah, e tinha que ter cadeirões para os pequenos sentarem.
A disposição das mesas tinha que garantir a boa circulação dos garçons. Eles vinham alegres com os pratos e serviam a todos individualmente, usando para isso uma simpática mesa de apoio. Que destreza no manuseio de duas colheres com a mesma mão para manusear a comida enquanto que a outra mão segurava o prato! Sensacional!
Havia famílias que não permitiam que as crianças saíssem da mesa e ficassem “trançando” pelo salão (era exatamente este o verbo usando: trançar). As crianças tinham que ficar sentadas e se distraírem com alguma coisa. Algumas vezes, era permitido desenhar no papel encerado que cobria a mesa, se disponível, obviamente. Do contrário, os mais novos, que se sentavam todos próximos entre si, tinham que ficar conversando entre eles. Não havia celular, ipad, games ou qualquer outro eletrônico. E não havia o hábito de se levar na bolsa qualquer distração para a criança como um jogo, um livro ou algo similar. Tinha que ficar lá e interagir com os demais.
Nos anos 80, as mães, na sua grande maioria, tinham ingressado no mercado de trabalho. Os almoços em casa durante a semana começaram a ficar bem raros. O cansaço da semana passou a vir da rotina fora de casa. Para que não houvesse mais trabalho no fim de semana… restaurante no domingo. O avô e avó eram convidados a ir junto, mas aquela reunião de todo o clã começou a se subdividir em grupos familiares e as porções tinham que ser caprichadas, mas em um esquema de uma ou duas porções para servir a todos. As crianças, mais cheias de opinião do que a geração anterior, começaram a ter voz na escolha do prato e achavam chato demais aguardar pela comida. Uma televisão começou a surgir no salão do restaurante para alívio delas.
Nos anos 90, a tecnologia chega e o ritmo da vida das famílias muda. Todo mundo começa a ter mais correria. O almoço de domingo passa a ser um dos poucos momentos na semana em que o núcleo familiar se encontra para uma refeição, por vezes com hora marcada para término, porque um outro programa já está compromissado na sequencia. As crianças começam a levar consigo aparelhos com joguinhos para se distraírem à mesa.
Quando viramos a folhinha para o novo milênio, o celular invade e fim! Adeus a um almoço em que todos estejam 100% presentes de corpo e alma naquele encontro. E as crianças, sempre mais influentes na escolha do cardápio, quase que mandam mensagem eletrônica com a mensagem de “passa o sal” para seu companheiro de mesa. Exagero à parte, a dinâmica mudou um pouco e os almoços de domingo para algumas famílias deixou de ser algo sagrado.
Ai entra a magia do restaurante…
No Costelão é possível aos pais de hoje, resgatar aquele espírito bom do almoço de domingo. Muitas de suas lembranças de infância estarão lá, de alguma forma: o cadeirão, o papel encerado para proteger a toalha ( e para as crianças brincarem, se os pais deixarem), o jeito dos garçons (repare como eles sabem usar bem os talheres), o som de conversa de família no ar… e, claro, porções fartas e generosas.
A Páscoa está ai. Que tal resgatar esta tradição de almoço de família no próximo domingo?